Sinopses de Filmes

B
"Batman", de Tim Burton (1989)
“Bom Dia”, de Yasujiro Ozu (1959)
“Brinquedo Proibido”, de René Clement (1952)
“Billy Elliot”, de Stephen Daldry (2000)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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"Batman", de Tim Burton (1989)

 

No seu 200ª aniversário, Gothan City assiste Batman, ou Bruce Wayne, interpretado por Michael Keaton, enfrentar o Coringa, ex-executivo e gangster da corporação Axis Chemical. Numa Gothan City de estilo dark, quase gótico, Tim Burton nos apresenta uma sociedade burguesa degradada pela corrupção policial, abusos ambientais, excessos corporativos, ganância e imprensa sensacionalista e manipulada. Batman, o homem-morcego, é a proteção da sociedade civil diante da inoperância policial. Em face da crise social e do Estado, apela-se para o extraordinário: o herói Batman. É interessante o seguinte diálogo entre a jornalista Vicki Vale, interpretado por Kim Bassenger, e Batman: o homem-morcêgo diz que o Coringa, seu arqui-rival, é psicótico. Vicki observa: "Algumas pesoas dizem o mesmo sobre você". E arremeta: "(...) você não é exatamente normal, é?". Batman responde: "Não é exatamente um mundo normal" (vide acima). Enfim,de certo modo, Batman e os super-heróis expressam tão-somente a anormalidade do mundo do capital. Eles tendem a expressar a representação fantástica dos anseios de controle social diante de um mundo anormal e descontrolado (é o desejo de vingança de Bruce Wayne, empresário de estilo aristocrático, contra os assassinos de seus pais por ladrões de rua, que irá fazê-lo se transfigurar no justiciero Batman). [topo]
(2004)

 

“Bom Dia”, de Yasujiro Ozu (1959)

Num tranqüilo bairro da periferia de Tóquio, dois garotos, os irmãos Isamu e Minoru, pedem aos pais que comprem uma TV. Os pais se recusam, e em represália eles fazem uma greve de silêncio. Bom Dia é uma sátira encantadora da vida familiar suburbana do Japão dos primórdios da década de 1960. É perceptível a transição para a vida moderna, com seus novos aparatos tecnológicos (a TV e a máquina de lavar, por exemplo) e os novos costumes que se contrasta com a sociedade tradicional no Japão. Dirigido com graça e sensibilidade apurada, quase num estilo de contemplação zen, por Yasujiro Ozu, um dos grandes cineastas japoneses, Bom Dia expõem as mudanças impostas pela vida moderna: crianças impertinentes, que desafiam a autoridade do pai, mero trabalhador assalariado; filhas que não querem se casar, para não deixar solitário, o pai viúvo; a dificuldade de comunicação entre casais; o drama de aposentados e desempregados sem perspectiva de vida. Através de um humor sutil, quase no estilo de um Jacque Tati (em Mon Oncle), Ozu expõe, com graça e leveza, as contradições candentes de um Japão que se moderniza a largos passos no período histórico de ascensão do capital. Mais tarde, sob a crise estrutural do capitalismo no Japão, a graça e a leveza da critica da modernidade no Japão, iriam dar lugar, por exemplo, à grosseria sinistra e contundente dos filmes de Takichii Miiki (vide Visitor Q). [topo]
(2005).

 

“Brinquedo Proibido”, de René Clement (1952)


Durante um bombardeio, a pequena Paulette, de cinco anos, fica orfã. Ela é adotada por Michel, um menino de 11 anos, filho de camponeses. Paulette passa a morar com a família de Michel. Depois de enterrar o cachorro de Paulette num velho moinho abandonado, as duas crianças aos poucos vão construindo um verdadeiro cemitério de insetos e pequenos animais. As duas crianças vão estabelecer uma amizade singela e pura, mas fragilizada pela presença da morte e da incompreensão. Em pleno cenário da guerra e da loucura dos adultos (vide a briga estúpida entre as duas famílias de camponeses), Paulette e Michel constroem um mundo imaginário à parte, inclusive atentando contra as tradições sagradas da Igreja (Michel furta várias cruzes do pequeno cemitério local para colocar no cemitério de insetos e pequenos animais). Clement expõe, de forma lírica, o contraste da inocência singela das crianças, imersas em suas fantasias, e a barbárie dos adultos, imersos na guerra e nas intrigas provincianas. Acima, Paulette implora a Michel para não matar um pequeno inseto. [topo]
(2005)

 

“Billy Elliot”, de Stephen Daldry (2000)

Billy Elliot (interpretado por Jamie Bell) é um menino de onze anos, filho de mineiro de carvão do norte da Inglaterra, que, em plena greve dos mineiros de 1984, decide ter aulas de ballet com a Sra. Wilkinson (Julie Walters). Billy se escondendo do pai viúvo e do irmão, ambos participantes ativos do movimento grevista. Mas logo seu segredo vem a tona e suas esperanças são barradas. Entretanto a paixão de Billy pela dança e seu talento são reconhecidos pelo pai que o leva a inscrever-se no Royal Ballet em Londres. O filme de Daldry busca exprimir de forma alegórica a transição de uma época histórica para outra (este é, por exemplo, o mesmo tema de The Full Monty, de Peter Cattaneo, realizado em 1997 e que utilizou o mote da flexibilização do corpo para traduzir as novas disposições de subjetivação do capital pós-fordista). Billy é o contraste pessoal de seu irmão mais velho, Tony Elliot - enquanto ele é mineiro e sindicalista, vinculado à sociedade industrial de velho tipo, das minas de carvão e da indústria de chaminé; Billy, por outro lado, é o jovem talentoso e sensivel, entusiasmado pela arte do ballet, cujas qualidades pessoais (e a escolha profissional) estão ligadas à denominada "sociedade pós-industrial de serviços". No decorrer da década de 1980, o choque neoliberal de Margaret Thatcher no Reino Unido implicou a construção sócio-pessoal, no plano ideológico-valorativo, de um novo homem (e uma nova sensibilidade) pós-fordista vinculado às demandas das novas formas de exploração do capital, ligado à atividade de serviço. O que The Full Monty e Billy Elliot buscam expressar é que o neoliberalismo é muito mais do que uma política de gestão do Estado capitalista; é também um novo modo de vida (e de sensibilidade) social que busca descontruir uma determinada forma histórica de luta de classes. A força da ideologia individualista, onde o sucesso pessoal está ligado a talentos individuais, e não a movimentos coletivos, é flagrante em Billy Elliot, mais do que em The Full Monty, que mantém ainda, de certo modo, uma perspectiva de empreendimento coletivo. Na foto acima, Billy vislumbra o horizonte, tendo ao fundo o outdoor que conclama mineiros para greve na Inglaterra thatherista.[topo]
(2005)