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“Desafio
no Ártico”, de Charles Martin Smith
(Canadá, 2003)

A
vida dos esquimós, bem como seus hábitos, usos e costumes
foram bem descritos por Franz Boas no texto um ano entre os esquimós,
além de esmiuçar, descrever detalhadamente seus contos,
lendas, crenças religiosas a mitologia dos esquimós.
Podemos analisar no filme "Desafio no Ártico" uma
gigantesca discrepância existente entre a forma de olhar de
mundo dos esquimós e o olhar de mundo que tem o civilizado.
As duas concepções de mundo se entrelaçam de
maneira harmoniosa no decorrer do filme; mas em primeira estância
a etnocêntrica do industrializado, representado na figura do
piloto de cargas, toma fez em seu discurso, ele nem imaginava qualquer
tipo de relação com esse povo. “Eu mal imaginava
que em pouco tempo olharia para aquele pequeno sujeito sujo, de cabelos
compridos e olhos brilhantes, com sentimentos de interesse caloroso,
para não dizer amizade; mal imaginava a cordialidade com que
seria acolhido em suas pequenas cabanas.” (p. 67).
Percebe-se no filme a significativa transformação que
acontece no protagonista, onde inicia com o desespero diante da situação,
na qual, eles se encontram, até que ele percebe que a jovem
esquimó parece ser segura o suficiente para controlar a situação
e tenta sem desespero algum sobreviver em meio às adversidades.
O entrelaçamento entre as duas culturas é o ponto crucial
do filme, entrelaço este que é expresso na relação
entre as personagens principais do filme, uma convivência de
afeto e compaixão.

A forma como a materialidade é mostrada no filme é imantada
na figura do ex-militar da segunda guerra mundial, não obstante,
ao decorrer da relação com a esquimó, que por
sua vez demonstra total desapego as coisas materiais, ele começa
a “abri os olhos” e amadurecer gradativamente.
Correlacionando o texto de Franz Boas Um ano entre os esquimós
com o filme Desafio no Ártico, podemos observar uma relevante
semelhança na maneira com que são tratados os povos
Inuits; Boas se relaciona como ele mesmo diz “(...) com sentimentos
de interesse caloroso(...)”, ou seja, com total respeito. No
filme esse sentimento de amizade é conectado ao processo transformação
da personagem principal. Lembro-me que na cena de inicio do filme
o esquimó é estereotipado pelo grupo de cidadãos
que ali estavam, do qual, faz parte o protagonista, onde no roteiro
é enfatizada a relação de hostilidade desse sentimento.
No entanto no final do filme apesar de ser decepcionante falando como
espectador, depois de ter passado por tudo que ele passou inclusive
a morte de sua companheira, o roteiro do filme torna a enfocar a relação,
agora positiva de amizade entre o povo Inuits e o estrangeiro.
A diferença entre o tratamento que o civilizado tem com o “estranho”
e a maneira hospitaleira com que o povo Inuits trata o estrangeiro
chega a ser gritante. Exemplo dessa discrepância como já
foi mencionada a hostilidade do protagonista com o esquimó
no inicio do filme; e a forma com que ele é tratado pelo povo
Inuits na hora que é explicitado a confiança dos parentes
ao deixar que ele leve uma esquimó doente. É claro que
nessa ocasião o interesse financeiro pelas especiarias oferecidas
desperta a ganância do civilizado.

Essa hospitalidade Inuits também é narrada por Franz
Boas no final do seu texto o entusiasmo, excitação com
que o tratou ainda ele sendo um recém-chegado. “Quando
cheguei, os homens não sabiam quem iria chegar e formaram uma
fila (referência a cerimônia que é feita para recebe
algum convidado). Mas, assim que descobriram um homem branco, o primeiro
a visitar sua aldeia, eles se puseram a gritar muito alto, o que induziu
as mulheres e as crianças a saírem das cabanas baixas.
Todos começaram a dançar, gritar e cantar, uma balbúrdia
que ainda soa nos meus ouvidos. A novidade --- “Qodlunaq! Qodlunaq!”,
isto é, “ Um homem branco! Um homem branco!”---
tinha-se espalhado com incrível rapidez por toda a aldeia.
Todos estavam ansiosos para ver o recém-chegado; as crianças
se escondiam timidamente atrás das longas caudas dos casacos
de suas mães, gritando com medo e excitação.
Em suma, foi uma cena que vai estar em primeiro plano nas minhas lembranças
da vida dos esquimós.” (p. 80)

Analisando mais a narrativa que Boas faz do povo Inuits, podemos observar
seu entusiasmo ao relatar e descrever os hábitos assim como
as lendas desse povo. Desprovido de qualquer tipo de etnocentrismo,
mas sempre observando com uma visão do outro, ou seja, Boas
não expressa em nenhum momento a vontade de se tornar um deles.
Descrição dos rituais, cerimônias relatos das
lendas e dos contos enfim toda mitologia dos esquimós, dão
sustentação a está maravilhosa e tão agradável
narração, onde nós somos levados a imaginar cada
minuciosidade descrita por ele.
Willander
Ferreira do Nascimento
Estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL)
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